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  • Foto do escritorLucas Lima

O multiverso musical das lives

Atualizado: 30 de nov. de 2020

Neste período de pandemia, artistas participam de concursos e projetos para manter contato com seu público.


Foto: Reprodução


Todos os equipamentos estavam prontos para o show. Os artistas se preparavam para receber e deixar sua música ser consumida pela energia das aglomerações acaloradas do seu público. Porém, nada presencial, cada um curtindo na sua casa, sendo conduzidos pelas ondas sonoras transmitidas por meio das “lives streamings”.


De acordo com artigo publicado pelo programa de pós-graduação interdisciplinar em Estudos do Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as buscas por “live streaming”, que são apresentações, shows e performances transmitidas por grandes plataformas online sem a necessidade de download do conteúdo, como YouTube, Instagram, Facebook, entre outros, aumentaram 85% entre fevereiro e abril de 2020 no Brasil.


Antes deste momento histórico da pandemia do coronavírus, a música sempre esteve presente na vida das pessoas, principalmente dos baianos, conhecidos pela criatividade da população que criou diversos ritmos, como o arrocha, axé, pagode e samba.



Os artistas através da sua baianidade, agarram as oportunidades que a internet proporciona e tentam manter a divulgação dos seus trabalhos e voluntariamente trazem um pouco de arte e sensibilidade para este momento tão difícil da humanidade. Grandes artistas baianos como Caetano e Gilberto Gil através de suas lives vão encorajando os artistas locais, que sem a mesma produção mas com conteúdo e qualidade, sobrevivem ao momento e tentam se manter visíveis ao seu público através de diversas plataformas de transmissão ao vivo e online que estão sendo utilizadas para a produção das lives.


Projetos envolvendo artistas independentes


A música traz um bem estar para o ser humano e atividades que envolvem ela contribuem ainda mais, principalmente nesse período de isolamento social. Pensando assim, a Zuca Tuga, uma web rádio de brasileiros em Portugal, criou um concurso #FicaEmCasaEFazUmSom com a intenção de fomentar e dar visibilidade ao trabalho de artistas independentes, além de promover reflexões sobre a situação que vivemos, a importância de se adotar os cuidados necessários, e sobre as mudanças que queremos para o mundo após superarmos este difícil momento.



Raulino Júnior. Foto: Reprodução


Um dos finalistas do concurso, foi o baiano Raulino Júnior, jornalista, produtor cultural e também compositor que foi um dos premiados, e contou sobre a experiência que teve nesse projeto: “Essa experiência foi muito rica e interessante. Adoro participar de concursos dessa natureza, porque sempre aprendo. O rap que eu inscrevi, cujo nome é Sonho, fala da resiliência no combate ao racismo. Eu compus em julho deste ano e fiquei feliz com a caminhada dele no concurso e com toda a repercussão”, enfatiza o cantor.


Além do concurso realizado pela rádio Zuca Tuga, também foi lançada A Real da Live que é, ao mesmo tempo, uma campanha de arrecadação, que pode ajudar profissionais da arte e também o retorno às atividades da Casa Preta, espaço cultural, na forma que hoje é possível e segura: ao vivo, mas sem público.


O grupo Império Ragga estreou a programação adulta no mês de outubro no projeto A Real da Live e o contrabaixista Bobo Tafari relatou como essa atividade tem ajudado esses artistas que sobrevivem ao momento e tentam se manter visíveis ao seu público. “A gente que trabalha com essa coisa do contato, cara a cara com o público é um pouco diferente, até mesmo estranho, essa coisa da live. É meio que um DVD, e é uma coisa bem superficial na minha visão, mas diante das poucas opções que temos, a live tem sido a melhor opção mesmo pra gente tá podendo apresentar. Essa questão da apresentação ao vivo, pela dificuldade, na verdade, pela impossibilidade do momento, tem sido mesmo essa carência que tem sido suprida por projetos como A Real da Live”, relatou.


Apesar de ser uma banda completa, com mais instrumentos, devido a pandemia, o grupo Império Ragga teve que se apresentar na live em um número reduzido, contendo somente o DJ e a percussão. Mas segundo o Bobo Tafari, “Foi só um aperitivo do que é de fato, Império Ragga” e os integrantes estavam felizes em ter participado dessa iniciativa muito importante.


Impacto das lives na música durante a pandemia


O multiverso musical presente nas lives pode ser essencial na pandemia, pois a música serve de companhia diária para quem está sozinho neste momento. Com isso, Raulino Júnior diz que: “A música, na minha vida, é deusa. Desde que eu me entendo por gente, não lembro de momentos da minha vida sem música, e música é uma arte universal. Só conheço uma pessoa que me disse que não gosta de música, fiquei surpreso com o relato, porque, em geral, as pessoas não gostam de um determinado gênero musical, mas gostam de música. Eu escuto música o dia todo, durmo e acordo com o rádio ligado. Independentemente da pandemia, a música sempre me ajuda, porque ela salva e é alimento para a alma”, comenta o músico.


A preocupação dos artistas em transmitir um evento que satisfaça o seu público tem sido cada vez mais desafiador. Bobo Tafari fala sobre o cuidado que o império Ragga tem em deixar seu público satisfeito. “Tivemos um feedback bastante positivo das lives que fizemos, nesse sentido de manter o interesse do público, de tá transmitindo a energia, mesmo que sendo ali pelo meio virtual, pela coisa da televisão e da tela do computador. A galera assim que acompanha a gente, deu um feedback muito positivo. Para a gente é muito satisfatório, ainda que não seja algo que nós consideramos o ideal, mas a satisfação do público também já é algo muito importante pra nós. Então, nesse sentido, tá suprindo, né? Esperamos que logo em breve estejamos todos juntos e misturados, aglomerados aí naquele calor, metendo dança”, ressaltou o cantor.


Já foram gravados clipes colaborativos, entre outras interações musicais por meio das plataformas de transmissão ao vivo, mas o bom senso em não abusar das lives também deve ser usado. Com relação a essa questão, Raulino Júnior comenta: “Eu acho que as lives foram e são ótimas alternativas para os artistas da música, que tiveram que evitar aglomerações no atual contexto, se expressar artisticamente e garantir uma renda. Contudo, acho que elas têm que ser feitas com parcimônia, pensando na arte e nunca no fazer por fazer. Arte é inspiração. Live demais, na minha opinião, cansa. Se não tiver um propósito artístico bem fundamentado, um conceito, é pior ainda. O clichê é válido neste momento: menos é mais” conclui o artista.

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